Para 81% das empresas, o tema liderança aparece em primeiro lugar nos treinamentos considerados prioritários; 84% das organizações contratam treinadores externos como parte de sua estratégia de investimento em T&D.

E por que as empresas investem no Desenvolvimento de seus Líderes?

Por um simples motivo: são os líderes que fazem uma empresa acontecer. É na mão de líderes que se promove a produtividade, a qualidade e o sucesso de uma empresa. Dependendo da atuação do líder, as equipes produzem mais ou menos, o “turnover” cresce ou diminui, a satisfação com o trabalho e com a empresa é maior ou menor (Fonte: Pesquisa ABTD 2014 e 2015).

Começo esse texto deixando uma pergunta: O trabalho de um formador de líderes é mudar o líder?

Muitos Departamentos de Recursos Humanos, ou donos de empresas, contratam um formador de líderes pensando que este será o salvador da pátria, que resolverá todos os problemas de liderança que sua empresa enfrenta.

Infelizmente, nem sempre é assim, e ao longo desse texto vou explicar melhor sobre isso e como é abrangente o nosso papel dentro das organizações.

Os líderes que temos hoje dentro das organizações dizem muito sobre a cultura organizacional das empresas. Esta é desenhada e criada pelas interações com outros e moldada por comportamento de liderança e um conjunto de rotinas, regras e normas que orientam e restringem o comportamento das pessoas dentro da empresa. Cultura é a parte mais profunda e inconsciente de um grupo.

Para entender esse conceito de Cultura basta você observar o discurso dos liderados e analisar o que o seu líder tem fomentado nas equipes. Falarei um pouco da minha experiência como boa ouvinte que sou.

Escuto discursos prontos como: (1) “Eu não sabia que tal tarefa era minha responsabilidade”; (2) “Eu não sabia que tinha que fazer a entrega do produto hoje”; (3) “A entrega não foi feita, mas eu fiz a minha parte. Foi o outro setor que não fez a parte dele”; (4) “Já passou por esse setor vários líderes. Eles nunca ficam mais que um ano e as coisas sempre voltam ao que eram antes”; (5) “Eu faço a minha parte apenas e cumpro minha carga horária”; (6) “Eu faço a minha parte corretamente, mas o outro não muda”.

Passaria várias páginas descrevendo tudo o que eu já ouvi ao longo da minha carreira no mundo organizacional, entretanto, essas frases são as que escuto com mais frequência dos liderados e  dos líderes.

Retomo a minha pergunta inicial. Mudar o líder é o papel do formador de líderes? NÃO. A transformação não ocorre se o líder não estiver disposto a mudar. Eu sempre escuto essa pergunta quando faço o primeiro contato com o cliente. O nosso papel é ajudá-lo a fazer escolhas conscientes e assertivas, para si e para sua equipe, porém, ele pode tomar consciência de que não é o momento de mudar, pois fez uma análise de todos os ângulos e as consequências possíveis, e está maduro para tomar essa decisão. Sim, já vi muitos líderes tomarem essa decisão de forma assertiva e mudar de área.

Para que esse grau de maturidade aconteça, e consigamos promover a mudança dos líderes, é preciso trabalhar num primeiro momento o que eu chamo de quatro autos, ou seja, o seu auto conhecimento, a sua auto liderança, a sua auto gestão e a sua auto responsabilização. Dessa forma, conseguimos promover a mudança de “mindset” desse líder e prepará-lo para atuar com a sua equipe. Esse é um trabalho para o segundo momento do treinamento de líderes.

A mudança vem de dentro para fora. Como formadores de líderes, somos agentes de transformação, mas não temos o poder de mudar o outro. Se isso ocorrer, e este é o nosso objetivo, é porque o líder buscou a mudança. Isto é mérito dele. Costumo dizer que “conhecimento não é nada se não for colocado em prática”. A mudança só acontecerá quando estivermos famintos por ela.

Mas, se nos aprofundarmos um pouco mais nesse assunto, o papel de um formador de líderes começa bem antes do início do treinamento destes. Como especialista é importante entender e conhecer a empresa e suas demandas. Precisamos atentar para as entrelinhas, escutar o que não está sendo dito e perceber o que não está sendo notado pelos seus membros. Ter uma visão sistêmica, entender o impacto da liderança na empresa e na vida das pessoas, perceber as lacunas organizacionais e por fim trabalhar a cultura organizacional. Essas são também responsabilidades de um formador de líderes.

Como vocês viram, a responsabilidade de um formador de líderes é muito grande. Passamos a ser uma referência de liderança, e como tal, nós somos exemplos. Nossos conceitos e crenças sobre liderança influenciam a nossa postura e a condução dos grupos de trabalho. Precisamos estar sempre atentos de que forma vamos influenciar esses líderes, trabalhando sempre para ser uma referência positiva e não o contrário.

Maria Pereira